Rotas dos Azulejos - Linha do Minho

19 Na tradição de revestimento mural a azulejaria encontra nos edifícios das estações de caminho de ferro um suporte de eleição para a expressão das suas potencialidades pictóricas. É nas faces vidradas e através do desenho, da cor, do claro-escuro dado pela pincelada rápida, por vezes do relevo e, sobretudo, através do brilho, do seu reluzir, que se acentua e estrutura a modelação das superfícies. No caso dos painéis figurativos, e numa primeira fase, a temática preferencial são as paisagens e sítios, usos e costumes, tradições e fainas agrícolas ou piscatórias, constituindo como que “bilhetes- postais” de cada localidade. As diferentes fontes de inspiração provêm muitas vezes de gravuras ou fotografias, revelando a intuição e competência dos pintores de azulejos na adaptação dessas imagens à escala monumental da arquitetura. As técnicas industriais e artesanais mais frequentes são a pintura à mão, diretamente sobre o vidrado, a estampilhagem (uso de máscaras recortadas para passagem dos pigmentos coloridos para o vidrado), a estampagem (impressão por prensagem mecânica de uma estampa sobre a peça vidrada) e o alto e médio-relevo (formas preenchidas com argila, trabalhadas manualmente por pressão direta dos dedos ou prensagem mecânica). A conceção e a produção dos azulejos, o “saber fazer”, integra-se no registo das boas práticas de património imaterial e na história social do trabalho porque, por mais simples e em mau estado que estejam. são testemunhos de intenções, vontades, de técnicas e de criatividade. A vitalidade do azulejo, o “belo material”, no dizer do arquiteto João Carlos Loureiro que, no seu livro “O azulejo”. Possibilidades da sua reintegração na arquitectura portuguesa, escreve: “Alguns cobrem a superfície inserindo-se claramente na organização arquitetónica da fachada, marcando os vãos com uma acentuação do desenho que confere ao azulejo mais do que um papel meramente funcional. (…) A presença do revestimento é tão importante que se a dimensão e a escala das componentes arquitetónicas do edifício não fossem tão poderosas, na sua extrema sobriedade, estaríamos certamente em presença de um exemplo em que a arquitetura de suporte seria destruída.”

RkJQdWJsaXNoZXIy NzgzMzI5