Rotas dos Azulejos - Leopoldo Battistini

10 Linhas do Leste, do Oeste, de Évora e de Leixões História Até meados do século XIX, em Portugal os transportes eram insuficientes, morosos, desconfortáveis, pouco seguros e caros. Antes do caminho-de-ferro e do fomento de abertura de estradas, os transportes resumiam-se à tração cavalar, muito difi- cultados pela deficiente rede rodoviária, à navegação por cabotagem na orla marítima e pela navegação fluvial. O caminho-de-ferro fora inaugurado em Inglaterra em 1825. Rapidamente outros países europeus se mostraram interessados neste meio de transporte. Em Portugal, conseguida a estabilidade po- lítica com a Regeneração, e o empenho de Fontes Pereira de Melo, a ferrovia tornou-se central para a sociedade portuguesa. Pretendia-se ligar o país à Europa e as duas principais cidades do país, Lisboa e Porto. Em 28 outubro de 1856, a Companhia Central Peninsular dos Caminhos de Ferro de Portugal, primeira empresa ferroviária do país, organizou, em bitola europeia de 1,44 m, a viagem inaugural do caminho- -de-ferro em Portugal, na distância de 36 km, percorrida em 40 minutos, de Lisboa ao Carregado, presidida por D. Pedro V. O projeto das linhas do sul do Tejo não pode estar dissociado das restantes cons- truções de caminho-de-ferro em Portugal. Este, revela o esforço realizado, na segunda metade do século XIX, para dotar o país de vias ferroviárias, e também rodoviárias, mo- dernas que satisfizessem as necessidades da Revolução Industrial. Assim, em 1854, para a concretização de uma linha férrea ao sul do Tejo (primeiro com início no Montijo), foi contratada à Companhia Nacional de Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo, conhecida como a companhia dos “Brasileiros”, a construção e exploração da Linha do Barreiro a Vendas Novas, com um Ramal para Setúbal, na bitola de via 1,44m. Em 1858, já os comboios circulavam entre o Barreiro e Bombel, apesar da inauguração oficial ter acontecido em 1861 até Vendas Novas. Todavia, a construção da Linha de Vendas Novas a Évora e Beja, em 1860, fora adju- dicada à Companhia “Inglesa” (mais tarde Companhia do Sueste) na bitola de 1,67m. Esta diferença de bitolas obrigava ao incómodo transbordo dos passageiros oriundos de Lisboa e Barreiro com destino ao Alentejo. Problemas vários obrigaram, em agosto de 1861, à intervenção e aquisição pelo Governo da Companhia dos Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo, atribuindo a gestão, com a obrigação de mudança de bitola para 1,67m, à companhia “Inglesa”. Em 1863 o comboio passou a servir Évora (Estremoz, início do ramal, em 1873, e Vila Viçosa em 1905) e no ano seguinte Beja (de onde infletiu para sueste servindo Serpa em 1878), com o objetivo de estabelecer a ligação com o Algarve, onde chegou em 1889. O serviço de longo curso aqui implícito dei- xou de ser feito a partir do Barreiro quando, em 2003, após eletrificação das linhas, os comboios passaram a sair de Lisboa Oriente, via ponte 25 de Abril. Por ausência de meio alternativo, foi obri- gação legal a organização de um serviço fluvial para a travessia do Tejo, entre Lisboa e o Barreiro, que garantisse de ligação aos comboios, constituindo o primeiro caso de intermodalidade em Portugal. A travessia foi efetuada pelas companhias ferroviárias que operaram a sul do Tejo, no- meadamente a CP, entre 1927 e 1993, ano em que passou a exploração para a Soflusa, hoje a cargo da Transtejo-Soflusa. O respetivo serviço de manutenção e gran- de reparação dos barcos era feito na “doca” associada às Oficinas do Barreiro. A intervenção do Estado nas linhas a sul do Tejo passou ainda por, a partir de 1869 e após liquidar contas com a Companhia do Sueste, assumir a construção e a gestão até 1899, ano em que, sob a orientação do ministro Elvino de Brito, constituiu os Os Caminhos-de-Ferro a Sul do Tejo e o Ramal de Portalegre - Linha de Évora

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